“A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”.
(Milan Kundera. O livro do riso e do esquecimento. 1979)
As vísceras do Brasil ficaram expostas no lançamento do livro “Teatro de Bonecos Dadá – Memória e Resistência”, neste sábado, 6 de abril, no Pequeno Auditório do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, em espaço ambientado por uma exposição de bonecos. Este locutor que vos fala fez a apresentação do livro, saudando Euclides Coelho de Souza e Adair Chevonika (in memoriam), fundadores do Dada em 1962, seu filho André Luiz vindo de São Paulo para o evento com Roseli, sua cônjuge ("pronuncia-se côn-ju-ge, como qualquer pessoa letrada sabe" - esclareci, por via das dúvidas).
A trajetória de mais de meio século do Teatro Dadá revela a história recente do país que aflora aqui, “de bubuia”, como se diz no Amazonas. Os bonecos nos permitem acompanhar, entre outras, as políticas públicas relacionadas à cultura, à arte e à educação, assim como os embates políticos que aqui se sucederam.
O pesquisador interessado na história do Teatro de Bonecos Dadá (TBD), se cavar um pouco mais fundo na documentação, encontrará o Brasil nos seus alicerces. Lá estão o projeto audacioso do Centro Popular de Cultura (CPC) e a UNE Volante, Boal e o Teatro do Oprimido, a alfabetização popular e Paulo Freire, com direito a flashes que relembram a luta e a mobilização popular desde “O Petróleo é nosso” até as jornadas pelas “Diretas Já”.
E as histórias contadas pelos bonecos nesses cinquenta anos? É possível redescobrir, através delas, o riso de crianças e de adultos encantados com as peças de autores brasileiros, argentinos, mexicanos, peruanos, franceses, russos, tchecos e de outras nacionalidades que, além de divertirem, ajudaram a todos a refletir sobre os mistérios da vida e das relações sociais.
O destino de Eva
O Teatro Dadá fez a alegria de milhares de crianças no Brasil, em vários países da América e na Europa, apresentando espetáculos em ruas, praças, parques, feiras, sindicatos, quermesses, creches, escolas, clubes, casas paroquiais, igrejas, barracões, circos, garagens, tablados, carrocerias de caminhão, presídios, em qualquer lugar onde houvesse criança ou adulto capaz de se encantar com seus bonecos e com as histórias por eles narradas.
No entanto, não é possível esquecer que muitas histórias deixaram de ser contadas, porque foram proibidas pela ditadura militar. Seus criadores sofreram censura, repressão, prisão, inquérito policial-militar e o fechamento da escola maternal “Jardim da Infância Pequeno Príncipe”, acusado de abrigar o Teatro Dadá que “ensinava marxismo-leninismo a crianças de três anos”, disparate tão estúpido e delirante, motivo de deboche em todo o Brasil, incluindo uma crônica de Stanislaw Ponte Preta. A ditadura acabava de criar o embrião da tal “escola sem partido”. O bonequinho com a foice e o martelo foi a resposta irônica e bem humorada dada posteriormente à acusação.
Com a polícia em seus calcanhares, o TBD mudou-se para Brasília. Lá, a residência do casal foi invadida. Policiais destruíram tudo: palco, cortinas, cenografias, refletores, ferramentas, máquina de costura, títeres e destriparam Eva, uma boneca de espuma da peça A Divina Comédia do Teatro Kukol de Moscou, presenteada ao Dadá por Sergey Obraztsov, presidente da UNIMA – União Internacional de Marionetes. Eva percorreu dezenas de cidades da Europa, Ásia e América para vir morrer, assassinada, em Brasília. Sim, a ditadura prendeu e matou bonecos. Embora não conste na lista dos desaparecidos políticos, Eva é um deles.
A história do Teatro de Bonecos Dadá recorta a história recente do Brasil, um Brasil que se foi, mas que fica na crônica, no registro, na memória de quem precisa lembrar desse tempo “de fezes, maus poemas, alucinações”. que agora retorna. Condenados pelo poder arbitrário em nossa pátria, Euclides e Adair tiveram que deixar André, o filho de dois anos, com a avó, em Curitiba, e saíram para o Chile clandestinamente, no final do governo Frei. Tivemos uma breve experiência em uma comunidade campesina em Osorno com uma proposta de usar o teatro de bonecos na campanha de alfabetização. Depois, o grupo percerrou mais dois países acolhedores: Peru e Bolívia. Meses depois o filho veio, finalmente, se juntar aos pais em Lima.
No exílio
Foi aí, no exílio, que o casal me convidou para fazer parte do grupo. Minha experiência até então se limitara a ser mero espectador do Peteleco, um boneco negro e irreverente, manipulado pelo ventríloquo Oscarino Farias (1937-2018) pelas ruas de Manaus. Confesso que, mesmo despreparado, aceitei, nem tanto pelos bonecos, que não conhecia, mas para ficar ao lado dos dois, com quem convivi e muito aprendi.
O primeiro espetáculo de bonecos que assisti foi num ensaio do Teatro Dadá, em Lima. Com assombro, vi desaparecer, diante de meus olhos, enorme queijo devorado por milhares de ratos, manipulados apenas por duas pessoas. Um deslumbramento! No dia seguinte, eu já estava atrás do palco. Inicialmente segurando o queijo, depois manipulando bonecos.
Um deles que empunhei, meio desajeitado, foi na peça do poeta mexicano Germán List Arzubide. Meu personagem - o patrão - obrigava duas crianças a trabalharem em jornada infernal, carregando cana. Cada vez que elas reclamavam, o patrão chamava o diabo, que aparece em cena várias vezes, obrigando-as a retomar a labuta. Até que uma das crianças pergunta ao público onde se escondera o diabo. Com ajuda da plateia e porretes na mão, na melhor tradição do mamulengo, sentam o cacete nele. À medida em que é surrado, a máscara cai e revela a figura do patrão. O diabo, na realidade, era invenção do explorador.
Nos espetáculos com adultos foi diferente. Os mineiros da Marcona Mining Company estavam em greve com a área cercada por tanques do Exército. O Sindicato nos convidou a encenar a peça no distrito de Marcona, sul do Peru, para um auditório entupido de grevistas. Era de noite. Na cena em que Kori manipulado por Euclides pede ajuda para localizar o diabo, a resposta foi um silêncio sepulcral. O boneco de luva corre de um lado para o outro, implora a cumplicidade da plateia. Em vão. A peça parecia destinada ao fracasso quando Kori-Euclides fez o que só um boneco pode fazer, porque dita por um ator seria ofensivo:
- Aqui os homens são todos frouxos – diz Kori – vou pedir ajuda às mulheres.
Havia um pequeno grupo de mulheres no lado direito do palco. Elas, sempre na vanguarda, gritaram entusiasmadas, indicando o esconderijo do diabo. Logo os homens aderem. No debate depois do espetáculo, um deles confessou que demorou a reagir porque tinha vergonha de parecer criança.
Diversão e reflexão
Euclides e Adair sempre defendiam o teatro como um instrumento de transformação social, que deve divertir, mas ao mesmo tempo provocar uma reflexão crítica, como propõe Bertolt Brecht em seu “Petit Organon pour le théâtre” – manual de cabeceira do Dadá, lido, relido e discutido pelo grupo junto com A necessidade da arte”, de Ernst Fischer. Nesse sentido, a arte teatral é mais poderosa ainda do que um comício em praça pública – dizia Euclides.
Mas para que o teatro possa ser transformador, é preciso dominar e refinar a técnica e aprimorar a qualidade da linguagem, além de um conhecimento profundo da realidade que se quer mudar. Os fundadores do Dadá buscaram essas duas fontes. Fizeram muitos cursos no Brasil e no exterior, todos eles elencados no livro agora lançado. Participaram de festivais nacionais e internacionais em diversos países, entre os quais o de Charleville-Mezières, na França, onde aprimoraram seus conhecimentos na oficina “A Marionete a Criança” ministrada pelos búlgaros Maya Petrova e Athanas Ilkov.
Por que este livro, agora, vem lembrar tantos embates do Dadá? Há quem diga que esquecer é bom para não ficar escravizado ao passado, que o esquecimento é libertador, nos libera da dor e da tristeza e nos salva de culpas e rancores. No entanto, esquecer aqui não é apagar, ocultar, silenciar, varrer tudo para baixo do tapete, mas uma escolha consciente que implica exercício de memória.
Esse é o sentido da narrativa do Teatro de Bonecos Dadá: decantar lembranças para não deixar um vazio nesse pedaço de história. “Narrar é resistir”, diz Guimarães Rosa. Vale a pena ler o livro de autoria da jornalista Dinah Ribas, com a participação ativa de Euclides Souza e a apresentação feita pelo mais entusiasmado segurador de queijos já surgido na história do teatro de bonecos e que está aqui, agora, segurando a memória que anda tão deturpada, com ditadura virando “democracia forte” e o nazismo “movimento de esquerda”.
Se o escritor paranaense Nelson Pradella, amigo do Dadá, me permite, termino com versão ligeiramente modificada de seus belos versos que podem guiar a leitura deste livro:
“Lá vai Dadá e seu barco ligeiro / singrando a noite pela calçada /
Lá vai Dadá. / Vai e carrega a juventude e a morte/
os brinquedos antigos perdidos na infância /
vai carregando paisagens insubstituíveis /
lá vai Dadá. / Não deixem Dadá ir embora”.
Essa é a finalidade desse livro: não deixar Dadá morrer. O escritor judeu, Eli Wiesel, nascido na Romênia, poeta e teólogo, sobrevivente do campo de concentração nazista de Auschwitz, prêmio Nobel da Paz em 1986 escreveu uma frase bem conhecida de quem trabalha com memória social:
"O carrasco sempre mata duas vezes, a segunda por meio do silêncio".
Este livro mostra que não vamos deixar o Dadá morrer, como comprovam as pessoas que renovavam a fila de autógrafos durante mais de quatro horas no auditório do Museu. Viva o Dadá!
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Ficha Catalográfica: PINHEIRO, Dinah Ribas. Teatro de Bonecos Dadá: memória e resistência. Curitiba. Edição do autor. 2019. 208 pgs ISBN 978-85-914605-1-9. Copyright Euclides Coelho de Souza. Conceito Editorial - Régine Ferrandis. Projeto Gráfico - Pierre Design Editorial.
Brasil a través de los títeres
José R. Bessa Freire – Diário do Amazonas
“La lucha del hombre contra el poder es la lucha de la memoria contra el olvido”.
(Milan Kundera. El libro de la risa y el olvido. 1979)
Las vísceras de Brasil quedaron expuestas en la presentación del libro “Teatro de Bonecos Dadá – Memória e Resistência”, este sábado, 6 de abril, en el Pequeño Auditorio del Museo Oscar Niemeyer, en Curitiba, en un ambiente con una exposición de títeres. Este locutor que les habla hizo la presentación del libro, congratulando a Euclides Coelho de Souza , Adair Chevonika (in memoriam), fundadores de Dada en 1962 y a su hijo André Luiz, llegando de São Paulo para el evento con su esposa Roseli.
La trayectoria de más de medio siglo del Teatro Dadá revela la historia reciente del país que sale a flote. Los títeres nos permiten seguir las políticas públicas relacionadas a la cultura, al arte y a la educación, así como los embates políticos que acontecieron aquí.
Cualquier investigador interesado en la historia del Teatro de Títeres Dadá, si cavar un poco más hondo en la documentación, encontrará los cimientos de Brasil. Allí están el proyecto audaz del Centro Popular de Cultura (CPC), la Unión Nacional de Estudiantes – la UNE Volante, el Teatro del Oprimido de Boal, la alfabetización popular de Paulo Freire, con derecho a flashes que recuerdan la lucha así como la movilización popular desde “El Petróleo es nuestro” hasta las jornadas por las elecciones “Diretas Já”.
¿Y las historias que cuentan los títeres en estos cincuenta años? Es posible redescubrir, a través de éstas, la risa de niños y de adultos encantados con las piezas de autores brasileños, argentinos, mexicanos, peruanos, franceses, rusos, checos y de otras nacionalidades que, además de divertir, ayudaron a todos a reflexionar sobre los misterios de la vida y las relaciones sociales.
El destino de Eva
El Teatro Dadá provocó la alegría de millares de niños en Brasil, en varios países de América y de Europa, presentando espectáculos en calles, plazas, parques, ferias, sindicatos, quermeses, guarderías, escuelas, clubes, casas parroquiales, iglesias, circos, garajes, tablados, carrocerías de camiones, presidios; en cualquier lugar donde hubiera niños o adultos capaces de dejarse encantar con sus títeres y con las historias que narraban.
Sin embargo, no hay que olvidar que muchas historias dejaron de ser contadas, porque fueron prohibidas por la dictadura militar (1964-1985). Sus creadores sufrieron censura, represión, prisión, investigación policial-militar y la clausura de la escuela maternal “Jardín de Infancia Principito”, acusado de abrigar el Teatro Dadá que “enseñaba marxismo-leninismo a niños de tres años”, disparate tan absurdo y delirante, motivo de burla en todo Brasil, incluyendo una crónica de Stanislaw Ponte Preta. La dictadura acababa de crear el embrión de la “escuela sin partido”, una propuesta ideológica de adoctrinamiento defendida ahora por parlamentares bolsonaristas. La respuesta irónica y humorística del Teatro Dadá fue el títere con la hoz y el martillo.
Con la policía pisándole los talones, el Teatro de títeres Dadá se mudó a Brasilia. Allí, invadieron la casa de la pareja. La policía destruyó todo: escenarios, cortinas, reflectores, herramientas, máquina de coser, títeres, destripando Eva, un títere de espuma de silicona, personaje de la pieza La Divina Comedia del Teatro Kukol de Moscú, obsequio de Sergey Obraztsov, presidente de la UNIMA – Unión Internacional de Marionetas. Eva recorrió decenas de ciudades de Europa, Asia y América para venir a morir, asesinada, en Brasilia. Si, la dictadura arrestó y mató títeres. Aunque no conste en la lista, Eva hace parte de los desaparecidos políticos.
La historia del Teatro de Títeres Dadá recorta la historia reciente de Brasil, un Brasil que se fue, pero que permanece en las crónicas, en los registros, en la memoria de quien precisa recordar esos tiempos “de heces, malos poemas, alucinaciones” que ahora retornan. Condenados por el poder arbitrario en nuestra patria, Euclides y Adair tuvieron que dejar André, el hijo de dos años, con la abuela, en Curitiba, y salieron clandestinamente hacia Chile, recorriendo otros dos países acogedores: Perú y Bolivia. Meses después, el hijo vino finalmente a reunirse con los padres en Lima.
En el exilio
Fue entonces, en el exilio, que la pareja me convidó a hacer parte del grupo. Mi experiencia hasta ese momento se limitaba a ser un mero espectador del Peteleco, un muñeco negro e irreverente, manipulado por el ventrílocuo Oscarino Farias (1937-2018) por las calles de Manaos. Confieso que, a pesar de no sentirme preparado, acepté, no tanto por los títeres que no conocía bien, sino para estar al lado de los dos, con quien conviví y aprendí mucho.
El primer espectáculo de títeres que asistí fue en un ensayo del Teatro Dadá, en Lima. Con asombro, vi desaparecer, ante mis ojos, un enorme queso devorado por millares de ratones, manipulados apenas por dos personas. ¡Un verdadero deslumbramiento! Al día siguiente, yo ya estaba atrás del escenario. Inicialmente agarrando el queso, después, manipulando títeres.
Uno de los que manipulé sin mucha habilidad fue el patrón en la pieza del poeta mejicano Germán List Arzubide. Mi personaje obligaba a trabajar a dos niños en una jornada infernal, cargando caña de azúcar. Cada vez que reclamaban, el patrón llamaba al diablo que aparece en escena varias veces, obligándolas a retomar la faena. Hasta que uno de los niños le pregunta al público donde se había escondido el diablo. Con ayuda de la platea y con garrote en la mano, siguiendo la mejor tradición del mamulengo, le dan una gran zurra. A medida que lo van apaleando la máscara cae y revela la figura del patrón. El diablo era en realidad, una invención del explorador.
En los espectáculos con adultos era diferente. Los mineros de Marcona Mining Company estaban en huelga con el área cercada por tanques del Ejército. El Sindicato nos convidó a presentar la pieza en el distrito de Marcona, al sur del Perú, para un auditorio lleno de mineros. Era de noche. En la escena en que Kori manipulado por Euclides pide ayuda para localizar al diablo, la respuesta fue un silencio sepulcral. El títere de guante corre de un lado a otro, implora en vano la complicidad de la platea. La pieza parecía destinada al fracaso cuando Kori-Euclides hizo lo que solamente un títere puede hacer, porque dicho por un actor seria ofensivo:
- Aquí los hombres son todos cobardes – dice Kori – voy a pedir ayuda a las mujeres.
Había un pequeño grupo de mujeres al lado derecho del escenario. Ellas, siempre en la vanguardia, gritaron entusiasmadas, indicando el escondrijo del diablo. Ahí si, los hombres adhieren. En el debate después del espectáculo, uno de ellos confesó que demoró a reaccionar porque tuvo vergüenza de parecer infantil.
Diversión y reflexión
Euclides y Adair siempre defendieron el teatro como un instrumento de transformación social que debe divertir, pero al mismo tiempo provocar una reflexión crítica, como propone Bertolt Brecht en su “Petit Organon pour le théâtre” – manual de cabecera de Dadá, leído, releído y discutido por el grupo junto con “La necesidad del arte”, de Ernst Fischer. En ese sentido, el arte teatral es más poderoso que un mitin en plaza pública – decía Euclides.
Pero para que el teatro pueda ser transformador, se necesita dominar y refinar la técnica y perfeccionar la calidad del lenguaje, además de un conocimiento profundo de la realidad que se quiere cambiar. Los fundadores de Dadá buscaron esas dos fuentes. Siguieron muchos cursos en Brasil y en el exterior, todos mencionados en el libro. Participaron de festivales nacionales e internacionales en diversos países, entre los cuales el de Charleville-Mezières, en Francia, donde perfeccionaron sus conocimientos en el taller “La Marioneta y el Niño” impartida por los búlgaros Maya Petrova y Athanas Ilkov.
¿Por qué este libro nos evoca ahora los enfrentamientos de Dadá? Hay quien diga que olvidar hace bien para no quedar esclavo del pasado, que el olvido es libertador, nos libera del dolor, de la tristeza y nos salva de culpas y rencores. Entre tanto, olvidar aquí no es apagar, ocultar, silenciar, barrer todo debajo del tapete, sino una opción consciente que implica ejercicio de memoria.
Ese es el sentido de la narrativa del Teatro de Títeres Dadá: decantar recuerdos para no dejar un vacío en ese pedazo de historia. “Narrar es resistir”, dice el escritor Guimarães Rosa. Vale la pena leer el libro de autoría de la periodista Dinah Ribas y la participación activa de Euclides Souza así como la presentación hecha por el más entusiasmado ‘agarrador’ de quesos en la historia del teatro de títeres y que ahora está aquí, sujetando la memoria que anda tan deturpada, con dictadura convirtiéndose en “democracia fuerte” y el nazismo en “movimiento de izquierda” según discurso oficial del gobierno Bolsonaro.
Si el escritor paranaense Nelson Pradella, amigo de Dadá, me permite, termino con una versión sutilmente modificada de sus versos hermosos que pueden guiar la lectura de este libro:
“Lá vai Dadá e seu barco ligeiro / singrando a noite pela calçada /
Lá vai Dadá. / Vai e carrega a juventude e a morte/
os brinquedos ou “juguetes” antigos perdidos na infância /
vai carregando paisagens insubstituíveis /
lá vai Dadá. / Não deixem Dadá ir embora”.
Esa es la finalidad de este libro: no dejar morir Dadá. El escritor judío, Eli Wiesel, nascido en Rumanía, poeta y teólogo, sobreviviente del campo de concentración nazista de Auschwitz, premio Nobel de la Paz en 1986 escribió algo bien conocido por los que trabajan con memoria social:
"El verdugo siempre mata dos veces, la segunda por medio del silencio".
Este libro es una demostración que no dejaremos que Dadá muera, como comprueban las personas que renovaban la fila de autógrafos durante más de cuatro horas en el auditorio del Museo Oscar Niemeyer. ¡Viva Dadá!
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Ficha Catalográfica: PINHEIRO, Dinah Ribas. Teatro de Títeres Dadá: memória e resistência. Curitiba. Edição do autor. 2019. 208 pgs ISBN 978-85-914605-1-9. Copyright Euclides Coelho de Souza. Conceito Editorial - Régine Ferrandis. Projeto Gráfico - Pierre Design Editorial.