COLUNA ORA, PÍLULAS!
As pessoas que tem fome e sede justiça ficam revoltadas com a impunidade de criminosos. Nos últimos anos, no Amazonas, pipocaram alguns escândalos sem que seus autores sofressem qualquer condenação. Por isso, o povo acaba não confiando mais no Poder Judiciário – a tal da Justiça dos homens, que falha justamente porque tarda. Olhem só a memória da impunidade:
- Vereadores e funcionários da Câmara Municipal de Manaus fraudaram os cofres públicos, recebendo grana alta para pagar inclusive tratamentos médicos que não fizeram. O então presidente da Câmara Omar Aziz – um dos ressarcidos – engavetou o relatório com as informações, em vez de enviá-lo ao Ministério Público, como era seu dever. O seu antecessor, César Bonfim, cassado por corrupção descarada, como prêmio foi contratado pelo prefeito Eduardo Braga. Cinco servidores foram demitidos e em seguida reintegrados por força de liminar.
- Nas eleições de 1994, fraude das grossas. Os irmãos Oliveira montaram um esquema de compra e venda de votos. Simone Ramos dos Santos confessou à Polícia Federal que recebeu 40 reais para votar nove vezes no deputado Joaquim Corado, Ninguém foi condenado.
- Átila Lins, então presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, contratou irregularmente mais de 800 servidores, fazendo generosidade com dinheiro público que não lhe pertence. O Ministério Público se pronunciou, esclarecendo que Atila Lins podia ser punido. O deputado – tadinho! – reclamou de “perseguição política”. Continua impune até hoje.
- O ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado, José Ribeiro do Nascimento, contrariando o que determina a Constituição Federal, facilitou o acesso ao quadro permanente do TCE de funcionários sem concurso público. A maioria dos beneficiário pertence à família Lins: Belarmino, Cristiane, Cláudia, Naide, Wellington, George, William, Márcio, Francico das Chagas, Carlos Augusto, Luana, Fátima e por ai vai. O juiz titular da 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual condenou os responsáveis a devolver a grana auferida aos cofres públicos. Belarmino Lins – o Belão – gritou: “Nem me pega! Nem me pega! Riu na cara do magistrado. Foi aos jornais e esnobou: “Ainda restam três instâncias jurídica: o Tribunal Pleno do Colegiado de Desembargadores, o Tribunal Federal de Recursos e o Supremo Tribunal Federal.
- A Polícia Federal indiciou seis universitários acusados de comprar diplomas falsificados do 2º Grau. Um deles é justamente o William Lins de Albuquerque, que conseguiu ser contratado pelo TCE sem concurso público. Ele confessou ter comprado o diploma falso da Escola Altair Severiano Nunes, a mesma onde ‘colou grau” Ronaldo Lázaro Tiradentes, atual secretário terceiro-ciclista de Comunicação, que não pode ser processado, pois goza de imunidade parlamentar.
- Parece que continua mofando nas prateleiras da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado o processo que apura denúncias feitas contra o médico gastroenterologista Edson Rita Honorato, acusado de estuprar três adolescentes. Por que é tão difícil de se fazer justiça no Brasil e muito mais ainda no Amazonas?
O Judiciário na berlinda
O Circuito Psicanalítico do Rio de Janeiro e o Jornal do Brasil promoveram nesta semana no Teatro Leblon um debate para discutir a Justiça no Brasil. Ou a falta dela. Os debatedores foram o procurador do Ministério Público Antônio Carlos Biscaia, o Secretário da Associação de Magistrados do RJ, Luís Fernando Salomão, o sociólogo do IUPERJ Luís Werneck Viana, o psicanalista Joel Birman e a presidenta da Associação de Parentes e Amigos das Vítimas da Violência, Vera Lúcia Alves.
A lentidão da Justiça foi o tema principal. Somente no ano de 1995, deram entrada nos tribunais brasileiros 4.700.000processos novos. Mas só foram julgados – entre processos novos e antigos – cerca de 3.500.000. Sobraram só neste ano 1.200.000 processos.
O psicanalista Joel Birman foi bastante aplaudido quando declarou: “Não se pode discutir Justiça, sem questionar como é que as leis são feitas”.
Na plateia, um estudante de direito confirmou que o Código Penal brasileiro dá muito mais valor à propriedade do que às pessoas. Se você ferir alguém, pode pegar de 3 a 7 meses de prisão. Se roubar, de 1 a 4 anos de cadeia. Será que não dá remorso prender alguém por quatro anos por furtar uma bicicleta ou até mesmo para comer? – perguntou o estudante.
O juiz Luís Felipe acha que a maior parte dos magistrado são meros aplicadores da lei, estão distanciados da população e desconhecem a realidade.
“Ainda é difícil para o povo o acesso à Justiça e é demorada sua resposta na solução dos conflitos. A estrutura do Poder Judiciário carece de urgente e radical reformulação. Resquícios de corrupção subsistem” – afirmam os advogados do Rio de Janeiro, em documento aprovado na sua VII Conferência Estadual realizada nesta semana.
Os advogados querem que a Magistratura seja submetida a um controle social, reivindicam mudanças na legislação processual para agilizar os procedimentos sem prejuízo de assegurar a todos o exercício pleno do direito de defesa e questionam os elevados custos que “afastam os pobres da Justiça”.
Um dado fundamental para não se jogar a culpa apenas sobre os ombros dos magistrados. Hoje, o Brasil conta com cerca de nove mil juízes o que dá uma média de um juiz para cada 18.000 habitantes. Na Alemanham, a média é de um juiz para 3.500 habitantes.
PILULINHAS
Escola Fazenda – Duas crianças com Aids, 26 com malária, meninas de 14 anos grávidas, apenas 10 funcionários para cuidar de 120 adolescentes que dormem no chão, na maior sujeira e fedentina. Um único médico que comparece aos sábados. Esta é a Escola Fazenda da Esperança, que ironicamente tem esse nome. Esperar o quê? O Plano Trienal do Cabo Pereira? Esse Lupércio, francamente, é o fim da picada.
Mãe de quem? – A política de incentivos fiscais, afinal, já cumpriu ou não o seu papel? Aqui está a mãe do Samuel Hanan, aqui a do Mauro Costa. Quem for mais macho, chuta a mãe do outro. Essa briguinha dá mesmo vontade de ressuscitar as brincadeiras de infância.
Ovo de codorna – Há duas semanas, no dia do agricultor, o padre Albano Temus, da Comissão Pastoral da Terra, havia criticado o tal projeto denominado 3º ciclo como “um saco de promessas”. O secretário da FETAGRI, Ademar Santos, confirmou que até hoje não chegaram os investimentos para a agroindústria nos municípios, limitando-se em alguns deles à simples entrega de uma pá para cada agricultor. Aí, o secretário de Comunicação, o Licenciado Ronaldo Lázaro Tiradentes rebateu as críticas, informando:
- “Há criação de codornas nos municípios de Envira e Itamarati, com produção mensal de 5 mil ovos”. Ele quer um ovo de cordona pra comer, o seu problema ele tem que resolver.
P.S. Leia amanhã no Taquiprati “O Cabo do Cabo” ou o que Nossa Senhora contou aos estudantes de Itapiranga.