Um projeto em tramitação na Câmara Municipal de Manaus promete criar muita polêmica até sua votação. A vereadora Conceição Lins (PFL vixe vixe) está propondo obrigatoriedade de exames de urina fezes e sangue para estudantes da rede municipal no ato da matrícula. Caso seja detectado algum tipo de doença infectocontagiosa, o aluno será afastado para tratamento em hospitais públicos.
Confesso leitor que estava sem assunto para a crônica semanal quando li esta saborosa matéria assinada pelo jornalista Júlio César Guimarães e publicada aqui em A Crítica na última terça-feira. Criar polêmica? Oba, é comigo mesmo, pensei. Tou nessa! Quero dar minha modesta contribuição ao debate. Vamos lá?
O que a vereadora Conceição Lins aposentada do extinto Tribunal de Contas do Município (TCM) está propondo, em realidade, é uma espécie de vestibular para selecionar o acesso de alunos às escolas municipais. Só que em vez de exames de português, matemática, história, geografia etc, o aluno se submeterá aos exames de fezes, urina e sangue. Quem passar entra. E quem levar pau?
Bom quem for reprovado, segundo o projeto da tia Ceiça, será encaminhado para um hospital público ou para um posto médico, o que equivale a uma condenação à morte. No dia 29 último, A Crítica publicou fotos impressionantes tiradas por Euzivaldo Queiroz de madrugada, no Posto de Assistência Médica (PAM) da rua Codajás: filas de cama improvisadas do lado de fora do prédio com doentes esperando consulta durante três dias. É para este inferno que a tia Ceiça quer mandar as crianças que não tiverem o cocozinho sadio.
Ela entre elas
Pressionado pela repórter, tia Ceiça admitiu que os reprovados poderão até frequentar a escola desde que “em salas especiais para alunos em tratamento”. Neste caso, cada Escola Municipal terá pelo menos três salas especiais para evitar a contaminação: uma sala com reprovados em fezes, outra com os que levaram pau no exame de urina e uma terceira com os de sangue ruim.
Sei não! isso equivale a levar as crianças para o paredão de fuzilamento. Menino é bicho cruel, não é flor que se cheire. Vai haver discriminação. Na hora do recreio, alunos do curso regular vão se recusar a brincar com os especiais e gritarão apelidos impróprios dos quais os mais suaves, com o perdão da palavra, poderão ser com três pontos de exclamação:
- Mijão!!! Cagão!!! Aidético!!
Por falar em flor que não se cheira, conheço uma jovem de boa família que por menos do que isso abandonou a escola. Era no final dos anos 50. Ela estudava no Colégio Estadual do Amazonas. Na hora do recreio foi com seus colegas para a Praça da Polícia, cujo jardim estava todo florido com aquela flor conhecida popularmente como Maria cagona. A moça sentou-se no meio dessas flores e o então aluno do Curso Clássico Benedito Lira, o Bené, hoje Juiz do Trabalho, poetou liricamente:
- Ela entre elas.
Todo mundo riu. Humilhada, a jovem nunca mais colocou o pé dentro da sala de aula. Até hoje. De qualquer forma, se o projeto aprovado, será necessário organizar em base científicas o vestibular para tentar diminuir os desgastes da discriminação.
O Rei da M
Se ninguém for contra, quero sugerir um nome para assumir a presidência da COPEVE - Comissão Permanente do Vestibular da tia Ceiça: o Raimundinho. Os raros leitores fiéis, que me acompanham há anos. sabem quem é Raimundinho - o “Rei da Eme” - que já foi A.A.F – Assessor para Assuntos de Fezes dessa coluna.
Técnico competentíssimo de laboratório de análises clínicas há mais de 20 anos, Raimundinho trabalha no Instituto Municipal de Previdência e Assistência Social - IMPAS e no Hospital Tropical onde diariamente pega latinhas ou frascos com o “material” do currículo da tia Ceiça, dá uma balançadinha, prepara o “milk shake”, deixa sedimentar, bota o olho clínico nas fezes e vai encontrando lombrigas, vermes, tuxina e todo tipo de parasitose intestinal.
Pois bem, segundo o futuro presidente da nossa COPEVE, o crescimento assustador de parasitose intestinal nos últimos anos atingiu cerca de 90% da população manauara, afetando inclusive setores da classe média abastada, o que significa que a escola da tia Ceiça terá problemas de evasão e de evacuação escolar?
Ou seja, o vestibular da tia Ceiça vai reprovar em massa, apenas 10 de cada 100 candidatos serão aprovados só na prova de fezes, sem contar os outros exames. É claro que numa situação como essa, a COPEVE vai ter de fiscalizar para evitar a “cola”, o que não vai ser fácil, porque enquanto vestibular da universidade é feito em sala pública, o da tia Ceiça será realizado em privada. Como saber se a prova foi feita pelos próprio aluno ou por outro em seu lugar?
PFL e PMDB
Baseado nesta brecha, o pessoal aposentado do TribuLins decidiu criar um “cursinho” pré-vestibular, na realidade, uma empresa com a sigla PFL, onde P quer dizer Produção, L quer dizer dos Lins, cabendo ao leitor determinar o significado de F. O objetivo dessa empresa é auxiliar alunos com dificuldades nos exames. Como os Lins comem bem - e como, comem! - eles poderão preencher latinhas com “material” sadio, sem amebas helmintos ou protozoários e vendê-las aos vestibulandos das escolas municipais pelo preço de R$ 1,00. Desta forma, crescerá a porcentagem dos aprovados.
O que os Lins não sabem é que para evitar a formação de monopólios, nós, os Bessa, estamos criando outro “cursinho” organizado por uma empresa concorrente, cuja sigla é PMDB, onde P quer dizer Produção, DB dos Bessa, cabendo ao leitor determinar o significado de M. Nós também somos sadios e queremos produzir as nossas latinhas (a um preço de 90 centavos). Já basta ter ficado de fora da mamata do Tribunal de Contas dos Municípios. Dessa boca aqui – boca? - ninguém nos tira.
PS. Conceição, maninha. não fica zangada comigo não. Entendi a tua intenção, diminuir as parasitoses e outras doenças. A intenção é boa. Mas o projeto, convenhamos, é insensato. O vestibular da tia Ceiça está com toda a pinta de ser o vestibular do Terceiro (?) Ciclo (?) de Desenvolvimento do Amazonas. Em vez de elaborar um projeto mirabolante como esse, por que não exigir que as verbas sejam canalizadas para o saneamento básico, o que diminuiria enormemente as doenças infectocontagiosas que atacam as nossas crianças?
Olha só: até o Jornal do Brasil publicou, escandalizado, que a Prefeitura de Manaus gastou no ano passado mais de R$ 10.500.000,00 com a manutenção da frota de veículos, enquanto destinou apenas R$93.000,00 para a rubrica Programa Saúde do Escolar. O teu irmão Belarmino Lins anunciou que o Governo do Estado vai liberar a verba de R$ 2,5 milhões para a elaboração de uma campanha publicitária junto à mídia de todo o país sobre a Zona Franca de Manaus. Em vez de direcioná-la para prioridades como saúde e educação. Protesta contra esse escândalo, Ceiça, que a gente te apoia.
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