(Para Jamacy Souza, com toda a admiração)
Realmente, cada dia fica mais difícil escrever uma crônica comentando as transas da cidade. Quando a gente já selecionou o tema e escolher a melhor besteira da semana pronunciada pela autoridade Sicrano, vem a autoridade Beltrano apressadinha, concorrendo com outra besteira maior, o que nos confunde e nos obriga a mudar de assunto, reescrevendo o que já estava escrito.
Os leitores são superexigentes e cobram muito. Um rechama:
- Putitanga, você não escreveu nada sobre o aniversário do prefeito.
O outro exige:
- Você deveria denunciar o conflito de Iranduba – sem duba – com o Iraque. Pois não é que o prefeito de lá, o Maranhão, olhado de longe e meio de revestrés por alguém cheio do chá, parece até o Shá do Iran!
Um terceiro pergunta:
- E o lixo? E o trânsito? E a Universidade, fecha ou não? Tem mesmo jacuba no jamaxi?
Paca, Tatu
Há vários dias, em entrevista na TV A Crítica, o herdeiro do trono Amazonino Mendes, ex-prefeito e candidato a governador, balançando a cabeça como uma vaquinha mococa de presépio, jurou que ele conhece profundamente a realidade cabocal do interior, que já pegou algumas malárias, que viajou pelos rios Purus e Juruá, que enfrentou algumas enchentes. No final da entrevista, o ex-prefeito biônico acabou rezando a seguinte oração à Santa Etelvina:
- "Quem não sabe o significado das palavras jacuba e jamaxi demonstra que não conhece o Amazonas e, portanto, não pode ser governador do Estado. Eu sei o que é jacuba e jamaxi" (mas não disse o que era, talvez com medo que outros aprendessem, o que poderia aumentar o número de candidatos concorrentes)
- Os outros candidatos não sabem o que é, porque nunca puseram o pé no interior, só passam de barco, longe, com um copo de uísque na mão – disse.
Você leitor (a) amigo (a), sabe o que é jacuba? Ein? E jamaxi? Já vi que não, não sabe. É por isso que o Brasil não vai pra frente! Todo mundo teve uma semana inteira para procurar no dicionário ou perguntar a qualquer pessoa do interior. Se vocês nunca comeram chibé de rapadura ralada, farinha e água e nunca carregaram nas costas um cesto feito de envira achatado de um lado, cheio de tucumã e açaí, podem tirar o cavalinho da chuva, o cabelinho da venta, o loló da seringa, os cinco dedos do lixo e a guias de importação das gavetas, que nunca, eu disse nunca, poderão ser governador do Estado do Amazonas. Amazonino dixit.
Depois dessa entrevista, tudo o que era confusão na política ficou claro como a água da COSAMA. Passamos a compreender porque entubaram o ex-vice governador do Amazonas e atual prefeito de Manaus, Manoel Ribeiro, porque Fábio Lucena se lançou candidato a governador e não aguentou o pepino, porque o Chico Queiroz ficou reduzido a mandato-tampinha. Nenhum deles sabia o que é jacuba e jamaxi.
Manoel Ribeiro era o “próximo’ governador, vocês se lembram? O bordão de sua propaganda dizia que devíamos “amar o próximo”, segundo os enormes cartazes espalhados por toda a cidade. Quanto dinheiro jogado fora em propaganda milionária!
O que aconteceu? Ora, na convenção do PMDB, Manuel Ribeiro foi submetido a uma dura sabatina.
- Você tem três minutos para repetir: “Paca, Tatu, Cotia não!” e para explicar o que é jacuba e jamaxi.
Nascido em Manaus, Manoel Ribeiro foi reprovado porque falou “cotia não” e tentou pedir cola aos assessores, que também não sabiam o significado de jacuba e jamaxi. Foi por isso que ele se retirou chorando, frente às câmeras de TV, os telespectadores testemunharam o seu choro. Eu vi, pessoal, ele chorava mesmo de verdade. O “próximo”, que devia ser amado, ficou distante do cargo de governador.
Cotia não
A vantagem de aplicar o teste do Jamaxi é que ele facilita as tarefas da democracia, eliminando de saída os candidatos que não têm competência para o cargo. O próprio senador Fábio Lucena – vocês se lembram? – chegou a lançar-se como postulante a governador, mas foi imediatamente jogado para escanteio. No primeiro, ele omitiu a paca e o tatu e com sua voz tonitruante sapecou, carregando nos “r”:
- Cotiarrrrr nãããão.
Foi reprovado no segundo teste porque, embora nascido em Barcelos, Fábio só conhece o vocabulário esdrúxulo usado pelo intragável e chato Rui Barbosa, seu guru. O “grande Rui” nunca colocou jacuba no jamaxi, duas palavras do léxico Nheengatu. Se fosse em latim, primeira declinação jacuba-jacubae, eles comeriam o chibé de rapadura ralada.
Francisco Queiroz (PMDB) presidente da Assembleia Legislativa, é outro que desconhece o léxico da Língua Geral, apesar de nascido no Careiro da Várzea. Ele só conhece mesmo a primeira sílaba das duas palavras em questão: Já. Aprendeu na Campanha das Diretas Já, mas como todo mundo do PMDB já esqueceu. Por isso é que ele só conseguiu ficar poucos dias no cargo de governador, o tempo de duração de uma sílaba, mas não se sustentou por mais tempo, porque não sabe as outras sílabas: CUBA E MAXI.
Reprovado no teste para governador, Manoel Ribeiro acabou encontrando emprego como prefeito de Manaus. Há dois dias, ele aniversariou. Como ninguém podia parabenizá-lo de verdade, porque a cidade está até o tucupi de lixo, mergulhada na podridão e no mau-cheiro, ele resolveu bancar uma “manifestação espontânea”, de mentirinha, para apoiá-lo, organizada por um tal de Conselho Comunitário Feminino, que tem tanta representatividade em Manaus como Pinochet no Chile.
As manifestantes, em pequeno grupo, compareceram – dizque – para dar os parabéns ao prefeito, ladeadas por pobres inocentes do “Projeto Meu Filho” e por um taxista que desejou – assim mesmo – “muita inteligência” a Manoel Ribeiro. Esses populistas do século passado deviam parar essa propaganda e começar a juntar o lixo da cidade, vocês não acham? Mas, emocionado, o prefeito só conseguiu articular uma frase:
- Isso para mim é como uma vitamina, me fortifica e me fortalece.
Êta abacatada dupla! Os manauaras, atolados de lixo, ainda são obrigados, por ironia, a ler cartazes espalhados em painéis publicitários pela cidade, que dizem: “Não faça sujeira com sua cidade. Não jogue lixo na rua".
Uma vizinha chegou a sugerir que cada morador presenteasse o aniversariante com uma sacola cheia de lixo, ou que fôssemos todos em passeata amontoar o nosso lixo em frente à casa do prefeito, no Conjunto Vieralves. Outra propôs que figurasse na lei eleitoral um artigo para impedir os cidadãos que desconhecem o significado de jamaxi de serem prefeitos.
Afinal de contas, o que significam mesmo jacuba e jamaxi?
No Acre, Jamaxi é poesia. Mas segundo informações de Magela Andrade, que viveu no Alto Solimões, trata-se do grito de guerra pós "Diretas Já". Já Cuba significa “Socialismo Já”, se considerarmos as duas últimas sílabas juntas e não isoladas, porque a decomposição de sílaba por sílaba pode fazer o negócio feder.
E jamaxi? Magela perguntou ao ex-diretor da Imprensa Oficial, o jornalista Paraguassu Pinheiro de Oliveira, que fala chiando. Ele ficou surpreso com a ignorância de todos:
- Jamaxi? Ora, eche é o nome do pai do escritor Márchio Chosa, o Jamachi Chosa, líder chindical, um dos melhores gráficos do Amachonas.
Francamente, só mesmo em Manaus um candidato como Amazonino é capaz de uma besteira dessas. É o FEBEASMA – Festival da Besteira que Assola Manaus.
P.S. - Ver também: https://www.taquiprati.com.br/cronica/571-debate-dutra-x-amazonino-do-jamaxi-ao-ipk