“A história da América é também a história de suas línguas, que temos de lamentar quando já mortas, de visitar e cuidar quando doentes, de celebrar com alegres cantos de vida quando faladas”. (Bartomeu Melià – 2010)
Em uma das línguas guarani, o homem denomina sua irmã de (t)xereindy: algo assim como “luz de minha vida”. Já a mulher chama seu irmão de (t)xekywy, em livre tradução “aquele que está sempre ao meu lado”. Essa é uma das formas de marcar com léxico específico as relações entre irmãos segundo o gênero e o lugar que ocupam. A antropóloga guarani Sandra Benites, comenta:
- O irmão ampara. E a irmã o ilumina para ele não se perder na escuridão.
Esse modo único de nomear as relações de parentesco e as demais coisas caracteriza cada uma das 6.700 línguas do mundo, das quais 5 mil são indígenas, a maioria em risco de extinção. Elas guardam um tesouro cultural, entre outros, conhecimentos sofisticados sobre o ecossistema, métodos de conservação, segredos de cura, mistérios da vida das plantas, comportamentos de animais e de seres humanos, sistemas de classificação, literatura oral, poesia, cantos - tudo isso acumulado em milhares de anos e que precisa ser estudado e compartilhado com o mundo inteiro.
No entanto, segundo o irlandês David Crystal, em “A revolução da linguagem”, a cada duas semanas desaparece uma língua, num ritmo acelerado sem precedentes na história da humanidade, o que é dramático e alarmante:
- Uma língua começa a desaparecer quando seus falantes são expulsos de suas terras ou quando a comunidade, por essa e outras razões, perde o desejo de preservá-la. Se uma língua que nunca foi documentada morre, é como se jamais tivesse existido, porque não deixa qualquer vestígio” - diz Crystal.
All the world
Se o guarani falado em quatro países desaparecer do planeta, ninguém mais chamará sua irmã de “luz de minha vida”, porque essas formas poéticas de ler as relações fraternas também desaparecem. O que significa que a morte de uma língua é tão catastrófica para a humanidade quanto a extinção de uma planta ou de um animal, porque com ela se perdem formas de imprimir sentido às relações e de entender o mundo.
- A língua é sagrada porque guarda o pensamento de um povo. Se eu falo em português a palavra casa, lembro uma construção com paredes, mas na minha língua Yaathé casa é cetutxiá, que significa lugar de sorrir, de paz, de alegria – diz dona Taci, pajé de Águas Belas (PE), onde vivem mais de seis mil índios Fulniô, muitos dos quais já não usam a língua, que a pajé, já falecida, fazia questão de falar sempre dentro de sua cetutxiá. O português, como sua segunda língua, por ter sido aprendida em situação de conflito, não lhe permite criar os sentidos poéticos e afetivos que compõe na sua língua materna.
Como impedir este glotocídio? A ONU celebra o Ano Internacional das Línguas Indígenas, em 2019, quando a UNESCO promove eventos em defesa dessas “línguas em perigo”, consideradas moribundas ou anêmicas, e dará seu aval a governos, organizações indígenas, universidades e centros de pesquisa para realizarem atividades em pelo menos 90 países, onde as línguas indígenas são faladas por 3% da população mundial. E no Brasil?
Brazil out
As línguas indígenas, jamais reconhecidas pelas instâncias do poder, foram reprimidas ou manipuladas em todo o continente americano ao longo de sua história. Perderam falantes que tiveram as terras usurpadas, sofreram castigos físicos na escola para não usá-las e foram compelidos a se envergonhar delas. Mais de mil línguas faladas no Brasil foram minorizadas, silenciadas e extintas em cinco séculos. O Estado brasileiro só mudou seu discurso na nova Constituição de 1988, que reconhece aos índios o direito de usarem suas línguas originais como forma de exercer a sua cidadania e etnicidade.
Esse Brasil, que não se considerava um país plurilíngue, sequer sabia quantas línguas eram faladas em seu território. O Censo do IBGE, pela primeira vez, em 2010, contabilizou 274 línguas indígenas, a partir da autodeclaração dos falantes. Já os linguistas propõem que esse número oscila entre 160 a 180, considerando que muitas delas podem ser variações de uma mesma língua.
De lá para cá, registramos avanços. Professores indígenas foram capacitados para dar aulas a 250 mil crianças, em mais de 2.700 escolas interculturais, a maioria delas bilíngues. Foi criado em 2010 o Inventário Nacional da Diversidade Linguística, permitindo o IPHAN identificar algumas línguas indígenas como “línguas de referência cultural brasileira”. Universidades, museus e centros de pesquisas desenvolveram projetos para documentar as línguas em perigo e formaram alguns índios no mestrado e no doutorado em linguística.
Todas essas conquistas estão agora ameaçadas pela corrente ideológica que toma posse no dia 1º de janeiro. O presidente eleito com 57 milhões de votos anuncia que vai rever as demarcações de terras, que a diversidade atenta contra a unidade nacional, que vai “proporcionar meios para os índios se integrarem à sociedade e serem iguais a nós”. Nós quem, cara pálida? Quem quer ser igual a Jair Bolsonaro? Os 57 milhões que votaram nele? Será que assinam embaixo do lema "O Brasil acima de tudo, os índios abaixo de todos?" De qualquer forma, o Brasil oficial, governamental, parece estar de fora das comemorações do Ano Internacional das Línguas Indígenas.
Retrocesso
Estimulado por esse discurso, o agronegócio com seus jagunços já está afiando os cascos. Ataques pipocam em várias regiões do país. Em Pernambuco, pistoleiros invadiram a terra Pankararu, na quarta (26), e incendiaram a escola indígena, creche e posto de saúde. No Maranhão, na quarta (19), uma força policial retirou 160 famílias de índios Tremembé de suas terras e tratores destruíram as plantações cuidadas sem agrotóxicos. No Amazonas, sábado (22), capangas armados atacaram a base da Funai de proteção a índios isolados na Terra Indígena Vale do Javari. Em Mato Grosso do Sul, o martírio dos Guarani-Kaiowá é permanente. Um silêncio sepulcral na grande mídia, com raras exceções.
Nessa questão, enquanto parte da humanidade avança em direção à civilização, o Brasil retrocede à barbárie, ao esquadrão da morte formado por bandeirantes no período colonial, a Paulo de Frontin, presidente da “Comissão do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil”, que declarou em 1900 no seu discurso oficial de abertura das comemorações:
- “O Brasil não é o índio; os selvícolas, esparsos, ainda abundam nas nossas magestosas florestas e em nada differem dos seus ascendentes de 400 anos atrás; não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não o conseguindo, eliminá-los”.
Esse discurso obscurantista e genocida ganhou fôrça na ditadura militar de 1964. Muitos anos depois, um de seus ministros, Delfim Netto, suspeito de receber 15 milhões de reais em propinas relacionadas à construção da Usina de Belo Monte, foi objeto de busca e apreensão na Operação Lava-Jato em 9 de março de 2018. O "gordinho sinistro", para retribuir o pagamento, desrespeitou as línguas indígenas fazendo “gracinha” nas páginas amarelas da VEJA:
- “Veja o caso do complexo hidrelétrico Belo Monte, no Rio Xingu. Por mais nobre que seja a questão indígena, é absurdo exigir dos investidores que reduzam pela metade a potência da energia prevista num projeto gigantesco, só porque doze índios cocorocós moram na região e um jesuíta quer publicar a gramática cocorocó em alemão”.
Esse é o espírito que anima o novo governo: truculência, deboche, ignorância, boçalidade. O movimento indígena e os “doze índios cocorocós” já estão organizando, por conta própria, as comemorações em defesa de suas línguas e de seus territórios. A resistência continua. Somos milhões de cocorocós, os índios e seus aliados.
P.S. O historiador mexicano Miguel León Portilla escreveu em nahuatl um belo poema Ihcuac tlahtolli ye miqui, cuja versão ao português Quando morre uma língua publicamos aqui em 2016. No Ano Internacional das Línguas Indígenas pedimos licença ao autor para ressuscitar as línguas nessa outra versão aqui recriada:
QUANDO UMA LÍNGUA VIVE
Quando uma língua vive,
se refletem nela
como num espelho
as coisas divinas, o universo:
estrelas, sol, lua.
bem como as coisas humanas:
pensar, sentir, amar.
Quando uma língua vive
tudo o que existe no mundo,
mares e rios,
animais e plantas
são pensados e ditos
com sinais e sons
repletos de significados.
Quando uma língua está viva
se abrem, então,
a todos os povos do mundo
uma janela, uma porta,
o desabrochar diferente
de tudo aquilo que é ser e vida na terra.
Quando uma língua está viva
qualquer falante dela,
consegue renovar
suas palavras de amor,
suas entoações de dor e querência,
ou - quem sabe? - seus velhos cantos,
suas histórias, discursos, preces.
Mas quando morre uma língua,
Ah! quando morre uma língua,
a memória fenece.
Espelhos quebrados para sempre,
sombra de vozes
silenciadas para sempre:
a humanidade se empobrece.
(http://www.taquiprati.com.br/cronica/1292-quando-morre-uma-lingua-version-en-espa)
LAS LENGUAS INDÍGENAS, BRASIL Y LA UNESCO EN 2019
José R. Bessa Freire – Diário do Amazonas - 30 de Dezembro de 2018
“También la historia de América es la historia de sus lenguas: que tenemos que lamentar cuando ya muertas, que tenemos que visitar y cuidar cuando enfermas, que podemos celebrar con alegres cantos de vida cuando son habladas.
(Bartomeu Meliá – Pasado, presente y futuro de la lengua guaraní – 2010, pg. 27)
En una de las lenguas guaraní, el hombre denomina a su hermana: (t)xereindy, algo así como “luz de mi vida”. Por su parte, la mujer llama a su hermano: (t)xekywy, en una traducción libre: ‘aquél que está siempre a mi lado”. Eso entre otras formas de marcar con léxico específico las relaciones entre hermanos según el género y lugar que ocupan. La antropóloga guaraní Sandra Benites comenta:
- El hermano ampara y la hermana lo ilumina para que no se pierda en la oscuridad.
Ese modo único de nombrar las relaciones de parentesco y las demás cosas caracteriza cada una de las 6.700 lenguas del mundo, de las cuales 5 mil son indígenas, la mayoría en riesgo de extinción. Cada una de ellas guarda un tesoro cultural, entre otros, conocimientos sofisticados sobre el ecosistema, métodos de conservación, secretos para curar, misterios de la vida de las plantas, comportamientos de animales y de seres humanos, sistemas de clasificación, literatura oral, poesía, cantos - todo eso acumulado en miles de años, que precisa ser estudiado y compartido con el mundo entero.
Sin embargo, según el irlandés David Crystal, en “La revolución del lenguaje”, a cada dos semanas desaparece una lengua, en un ritmo acelerado sin precedentes en la historia de la humanidad, lo que constituye un dato dramático y alarmante:
- Una lengua comienza a desaparecer cuando a sus hablantes se les expulsa de sus tierras o cuando la comunidad, por esa y otras razones pierde el deseo de preservarla. Si una lengua que nunca fue documentada muere, es como si jamás hubiera existido, porque no deja ningún vestigio” - dice Crystal.
All the world
Si el guaraní hablado en cuatro países desaparece del planeta, nadie llamará a su hermana “luz de mi vida”, porque esas formas poéticas de leer las relaciones fraternas desaparecen también. Lo que significa que la muerte de una lengua es tan catastrófica para la humanidad como la extinción de una planta o de un animal, porque con ella se pierden formas de imprimir sentido a las relaciones y de entender el mundo.
- La lengua es sagrada porque guarda el pensamiento de un pueblo. Si yo hablo en portugués la palabra casa, me trae a la memoria una construcción con paredes, pero en mi lengua Yaathé casa es cetutxiá, que significa ‘lugar de sonreír, de paz, de alegría – dice doña Taci, payé de Aguas Belas (PE), donde viven más de seis mil indios Fulniô, muchos de los cuales ya no usan la lengua que la payé, ya fallecida, insistía en usar siempre dentro de su cetutxiá. El portugués, como su segunda lengua, que aprendió en situación de conflicto, no le permite crear los sentidos poéticos y afectivos que compone en su lengua materna.
¿Cómo impedir este glotocídio? La ONU celebra el Año Internacional de las Lenguas Indígenas, en 2019, período en que la UNESCO promueve eventos en defensa de esas “lenguas en peligro”, consideradas moribundas o anémicas, y dará su aval a gobiernos, organizaciones indígenas, universidades y centros de investigación para realizar actividades en por lo menos 90 países donde las lenguas indígenas son habladas por 3% de la población mundial. Y ¿en Brasil?
Brazil out
Las lenguas indígenas, jamás reconocidas por las instancias de poder, fueron reprimidas o manipuladas en todo el continente americano a lo largo de su historia. Perdieron hablantes que tuvieron sus tierras usurpadas, sufrieron castigos físicos en la escuela para no usarlas, fueron humillados y presionados a avergonzarse de ellas. Más de mil lenguas habladas en Brasil fueron minorizadas, silenciadas y extintas en cinco siglos. El Estado brasileño solo mudó su discurso en la nueva Constitución de 1988, al reconocer que los indios tienen derecho a usar sus lenguas originales como forma de ejercer su ciudadanía y etnicidad.
Ese Brasil que nunca se consideró un país plurilingüe, ni siquiera sabía cuántas lenguas se hablaban en su territorio. El Censo de IBGE, por primera vez en 2010, contabilizó 274 lenguas indígenas, a partir de la auto-declaración de los propios hablantes, sin embargo, los lingüistas proponen un número que oscila entre 160 a 180, considerando que muchas pueden ser variedades de una misma lengua.
Desde entonces, registramos avances. Se capacitaron profesores indígenas para dar clases a 250 mil niños en más de 2.700 escuelas interculturales, la mayoría bilingües. Se creó en 2010 el Inventario Nacional da Diversidad Lingüística, permitiendo al IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) identificar algunas lenguas indígenas como “lenguas de referencia cultural brasileña”. Universidades, museos y centros de investigaciones desarrollaron proyectos para documentar las lenguas en peligro y algunos indios se graduaron en maestría y doctorado en lingüística.
Todas esas conquistas están ahora amenazadas por la corriente ideológica que toma pose el día 1º de enero. El presidente elegido con 57 millones de votos anuncia que va rever las demarcaciones de tierras, que la diversidad atenta contra la unidad nacional, que va “proporcionar medios para que los indios se integren a la sociedad para que sean iguales a nosotros”. ¿Nosotros? ¿Cómo así, cara pálida? ¿Quién quiere ser igual a Jair Bolsonaro? ¿Los 57 milllones que votaron en él? De cualquier forma, Brasil oficial parece estar fuera de las conmemoraciones del Año Internacional de las Lenguas Indígenas.
Retroceso
Estimulado por ese discurso, el agronegocio con sus sicarios ya está afilando los dientes, con ataques en varias regiones del país. En Pernambuco, pistoleros invadieron la tierra Pankararú, el miércoles (26), e incendiaron la escuela indígena, la guardería y el puesto de salud. En Maranhão, el miércoles (19), una fuerza policial retiró 160 familias de índios Tremembé de sus tierras y con tractores destruyeron las plantaciones cultivadas sin agro tóxicos. En Amazonas, el sábado (22), bandoleros armados atacaron la base de la Funai de protección a indios aislados en la Tierra Indígena Vale do Javari. En Mato Grosso do Sul, el martirio de los Guaraní-Kaiowá es permanente. Silencio sepulcral de los grandes medios de comunicación, con raras excepciones.
En esa cuestión, en cuanto parte de la humanidad avanza en dirección a la civilización, Brasil retrocede a la barbarie, al escuadrón de la muerte formado por bandeirantes del período colonial, a Paulo de Frontin, presidente de la “Comisión del Cuarto Centenario del Descubrimiento de Brasil”, que declaró en 1900 en su discurso oficial de apertura de las conmemoraciones:
- “Brasil no es el indio; los silvícolas, dispersos, que todavía abundan en nuestras majestuosas florestas y en nada difieren de sus ascendentes de 400 años atrás; no son ni pueden ser considerados parte integrante de nuestra nacionalidad; a esta cabe asimilarlos y, si no lo consigue, eliminarlos”.
Ese discurso oscurantista y genocida afloró en la dictadura militar de 1964. Muchos años después, uno de sus ministros, Delfim Netto, fue indiciado por recibir 15 millones de reales en sobornos relacionados a la construcción de la Usina de Belo Monte, y ahora fue objeto de busca y aprehensión en la Operación Lava-Jato el 9 de marzo de 2018. El “gordito siniestro”, para retribuir la coima, trató las lenguas indígenas con desprecio, en entrevista a las páginas amarillas de la revista VEJA:
- “Vea el caso del complejo hidroeléctrico Belo Monte, en el Rio Xingú. Por más noble que sea la cuestión indígena, es absurdo exigir de los inversionistas que reduzcan a la mitad la potencia de la energía prevista en un proyecto gigantesco, solamente porque doce indios cocorocós viven en la región y un jesuita quiere publicar la gramática cocorocó en alemán”.
Ese es el espíritu que anima al nuevo gobierno: truculencia, burla, ignorancia, estupidez. El movimiento indígena y los “doce indios cocorocós” ya están organizándose para celebrar, por cuenta propia, la defensa de sus lenguas y de sus territorios. La resistencia continúa. Somos millones de cocorocós, los indios y sus aliados.
P.S. El historiador mexicano Miguel León Portilla escribió en lengua nahuatl un bello poema Ihcuac tlahtolli ye miqui, cuya versión al portugués “Quando morre uma língua” publicamos en 2016. En el Año Internacional de las Lenguas Indígenas pedimos licencia al autor para resucitar las lenguas en esta otra versión:
CUANDO VIVE UNA LENGUA
Cuando vive una lengua
se reflejan en ella
como en un espejo
las cosas divinas y el universo:
estrellas, sol y luna;
las cosas humanas:
pensar, sentir, amar.
Cuando vive una lengua
todo lo que hay en el mundo,
mares y ríos,
animales y plantas
se piensan y se dicen
con susurros y sonidos
que ya no existen.
Cuando una lengua está viva
se abren, entonces,
a todos los pueblos del mundo
una ventana, una puerta,
un asomarse
de modo distinto
a cuanto es ser y vida en la terra.
Quando una lengua está viva
Sus hablantes
Logran renovar
sus palabras de amor,
sus entonaciones de dolor y querencia,
o tal vez sus viejos cantos,
sus historias, discursos, preces.
Pero cuando muere una lengua,
Ah! cuando muere una lengua,
la memoria se apaga.
Espejos para siempre quebrados,
sombra de voces
para siempre acalladas:
la humanidad se empobrece.
Edición digital nº +1277 - 09 Enero 2019
Las Lenguas Indígenas, Brasil y la Unesco
http://www.elorejiverde.com/el-don-de-la-palabra/4735-las-lenguas-indigenas-brasil-y-la-unesco
Ver também : Quando morre uma língua (http://www.taquiprati.com.br/cronica/1292-quando-morre-uma-lingua-version-en-espa
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Les langues indigènes, le Brésil et l'Unesco
Publié le 11 Janvier 2019 - http://cocomagnanville.over-blog.com/2019/01/les-langues-indigenes-le-bresil-et-l-unesco.html
"L'histoire de l'Amérique, c'est l'histoire de ses langues : dont nous devons nous lamenter quand elles sont mortes, que nous devons visiter et soigner quand elles sont malades, que nous devons célébrer avec des chants de vie joyeux quand on les parle."
(Bartomeu Meliá - Passé, présent et futur de la langue guaraní - 2010)
Dans l'une des langues guaranis, l'homme appelle une sœur sa : xereindy, quelque chose comme "la lumière de ma vie". La femme appelle son frère : xekywy, "celui qui est toujours à mes côtés". Entre autres façons de marquer avec un lexique spécifique les relations entre frères selon le genre et la place qu'ils occupent. Sandra Benites, anthropologue guaranie, commente :
- Le frère protège et la sœur l'éclaire pour qu'il ne se perde pas dans les ténèbres.
Cette façon unique de nommer la parenté et d'autres choses caractérise chacune des 6 700 langues du monde, dont 5 000 sont indigènes, les plus menacées d'extinction. Chacune d'entre elles possède un trésor culturel, entre autres, des connaissances sophistiquées sur l'écosystème, des méthodes de conservation, des secrets de guérison, des mystères de la vie végétale, du comportement animal et humain, des systèmes de classification, de la littérature orale, de la poésie, des chansons - toutes accumulées sur des milliers d'années, qui doivent être étudiées et partagées avec le monde entier.
Cependant, selon l'Irlandais David Crystal, dans "La révolution du langage", chaque semaine une langue disparaît, à un rythme sans précédent dans l'histoire de l'humanité, ce qui est un fait dramatique et alarmant :
- Une langue qui disparaît lorsque ses locuteurs sont expulsés de leurs terres lorsque la communauté, pour cette raison et d'autres, perd le désir de la préserver. Si une langue n'a jamais été documentée elle meurt, c'est comme si elle n'avait jamais existé "-
Si le guarani parlé dans quatre pays disparaît de la planète, personne n'appellera sa sœur "lumière de ma vie", car ces manières poétiques de lire les relations fraternelles disparaissent aussi. Cela signifie que la mort d'une langue est aussi catastrophique pour l'humanité que l'extinction d'une plante ou d'un animal, car avec elle se perdent les moyens de donner un sens aux relations et de comprendre le monde.
- La langue est sacrée parce qu'elle contient la pensée d'un peuple. Si je dis en anglais le mot maison, cela me rappelle une construction de murs. Mais en langue Yaathé, la maison est cetutxiá, ce qui veut dire sourire, paix, joie -
Comment prévenir cette disparition ?
L'ONU célèbre l'Année internationale des Langues Indigènes en 2019, période au cours de laquelle l'UNESCO promeut des manifestations de défense de ces langues en danger, considérées comme moribondes, et soutiendra les gouvernements, les organisations indigènes, les universités et les centres de recherche pour mener des activités dans au moins 90 pays où les langues indigènes représentent 3 % de la population mondiale.
Et au Brésil ?
Les langues indigènes, jamais reconnues par les autorités du pouvoir, ont été réprimées et manipulées à travers le continent américain tout au long de son histoire. Ils ont perdu des locuteurs, leurs terres ont été usurpées, ils ont subi des punitions et des humiliations à l'école pour l'utilisation de ses mêmes langues. Plus d'un millier de langues parlées au Brésil ont été réduites au minimum, réduites au silence et éteintes. L'État brésilien n'a modifié son discours que dans la nouvelle Constitution de 1988, reconnaissant que les Indiens ont le droit d'utiliser leur langue d'origine pour exercer leur citoyenneté et leur appartenance ethnique.
Que dire du Brésil, qui ne s'est jamais considéré comme un pays multilingue, ne sait même pas combien de langues sont parlées sur son territoire. Le recensement de l'IBGE, pour la première fois en 2010, a recensé 274 langues indigènes, à partir de l'affirmation des locuteurs eux-mêmes, mais les linguistes proposent un nombre allant de 160 à 180, considérant que plusieurs variétés peuvent être la même langue.
Depuis, nous avons fait des progrès. Des enseignants indigènes ont été formés pour enseigner à 250 000 enfants dans plus de 2 700 écoles interculturelles, la plupart bilingues. L'Inventaire national de la diversité linguistique a été créé en 2010, permettant à l'IPHAN (Institut National du Patrimoine Historique et Artistique) d'identifier certaines langues indigènes comme "langues de référence culturelle brésilienne". Des universités, des musées et des centres de développement ont élaboré des projets pour documenter les langues en péril, et certains Indiens ont obtenu une maîtrise et un doctorat en linguistique.
Toutes ces conquêtes sont aujourd'hui menacées par le courant idéologique qui prend effet le 1er janvier. Le président élu avec 57 millions de voix annonce qu'il va réviser la délimitation des terres, que la diversité menace la diversité nationale, qu'il va donner les moyens aux Indiens de s'intégrer dans la société pour qu'ils soient égaux à nous, nous ? qui veut être égal à Jair Bolsonaro ?
Marche arrière
Stimulé par ce discours, l'agro-industrie est déjà en train d'aiguiser ses dents, avec des attaques dans plusieurs régions du pays. A Pernambuco, des hommes armés ont envahi la terre Pankarararú mercredi (26) et mis le feu à l'école indigène, à la crèche et au dispensaire. Dans le Maranhão, (19), une force de police a retiré 160 familles d'Indiens Tremembé de leurs terres et détruit avec des tracteurs les plantations cultivées sans produits agrotoxiques. En Amazonie, samedi (22), des bandits armés ont attaqué la base Funai de la Terre Indigène Valle del Javari. Dans le Mato Grosso do Sul, le martyre des Guaraní-Kaiowá est permanent. Silence sépulcral des grands médias, à de rares exceptions près.
C'est l'esprit qui anime le nouveau gouvernement : truculence, moquerie, ignorance, stupidité. Le mouvement indigène et les "doux indiens cocorocos" s'organisent déjà pour célébrer, par eux-mêmes, la défense de leurs langues et territoires. La résistance continue.
L'historien mexicain Miguel León Portilla a écrit un beau poème en langue nahuatl, dont la version portugaise est "Quand meurt une langue". Au cours de l'Année internationale des langues indigènes, j'ai demandé à l'auteur une licence pour ressusciter les langues dans cette autre version :
Par José R. Bessa Freire. Diario del Amazonas
source Fuente: http://www.taquiprati.com.br/cronica/1431-as-linguas-indigenas-o-brasil-e-a-unesco-em-2019
Traduction carolita d'un article paru sur le site Elorejiverde le 9 janvier 2018