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Tensa e dramática foi a reunião realizada há três dias, em Brasília, entre os familiares dos desaparecidos e mortos pela ditadura militar e o ministro da Justiça Nelson Jobim. Na ocasião, cerca de 30 familiares entregaram ao ministro um volumoso dossiê com os nomes e a biografia dos 369 mortos e 152 desaparecidos , entre os quais se encontra o amazonense Thomás Antônio Meireles.
É preciso que as novas gerações do Amazonas saibam que Thomás Meirelles – como os demais desaparecidos, torturados e assassinados – era um combatente que lutava por um Brasil melhor, fraterno, com pão, trabalho e alegria para todos. Desprendido, corajoso, generoso, era um patriota que deu sua vida por uma causa que achava justa.
O que querem os parentes dos militantes que combatiam a ditadura? Simplesmente que o Governo brasileiro reconheça oficialmente os assassinatos cometidos durante os anos de chumbo, que permita um sepultamento digno e decente e que possibilite, enfim, que as famílias das vítimas acordem deste terrível pesadelo.
No caso concreto de Thomás Meirelles, uma homenagem lhe foi prestada no Amazonas, batizando-se uma escola com o seu nome. Mas a ferida só poderá começar a cicatrizar quando soubermos exatamente o que aconteceu com ele e, no caso de provável morte sob tortura, onde se encontram os seus restos mortais.
Na audiência no gabinete do ministerial, Nelson Jobim informou que o presidente Fernando Henrique Cardoso já determinou uma solução rápida para o problema e que o Governo está estudando formas de reconhecimento dos desaparecidos e mortos políticos.
- Vocês poderão enterrar seus mortos - disse o ministro, depois de ouvir o discurso emocionado de um familiar das vítimas. No entanto, o ministro não apresentou nenhuma medida concreta que o Governo pretende adotar. E se não o fizer rapidamente, sua retórica terá cheiro de enrolação.
Alega-se que se trata de uma questão delicada, porque os torturadores e responsáveis pelos assassinatos estão vivos – vivíssimos – e enfeixam ainda fatias consideráveis de poder político e militar. Argumenta-se ainda que o reconhecimento oficial dos mortos e desaparecidos pode desencadear uma série de processos de indenização contra o Estado.
Desde a anistia que essa questão vem sendo empurrada com a barriga por vários governos, cobrindo de vergonha o Brasil. Do primeiro governo civil encabeçado por José Sarney, colaborador íntimo de todos os governos militares, o que se poderia esperar? Em Collor de Mello – “o filhote da ditadura” – que esperanças podíamos ter? O presidente FHC, ele mesmo um exilado e perseguido político, tem a obrigação moral de resolver, de uma vez por todas, essas questões, para que – como canta o poeta João Cabral de Mello Neto:
O entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem.
O sim comer o não