01. Eu, Judas Iscariotes, / de Jesus sou o traíra,
Afiando os meus chicotes / como quem pedras atira.
Quem quiser que dê pinotes / e censure a minha lira.
Aqui deixo o testamento / como palavras ao vento.
02. O Lula já disse um dia / que quem a Cristo traiu
Com ele se aliaria / pra governar o Brasil.
Pra atender a freguesia / não serei nada sutil.
Vou abrir meu inventário / aqui no Monte Calvário.
03. Pro Papa Bento alemão / dou água de igarapé
Pra lavar o chulezão / dos padres da Santa Sé.
Se pedófilo tem perdão / e Boff e gay só pontapé,
Então santo serei eu / como meu xará Tadeu.
04. Deixo pro Barak Obama / o exército talibã.
Afeganistão me chama / mando canhões pro Irã:
a Hillary em pijama / Mônica Lewinsky em divã.
Oh my God / why do you sempre me phode?
05. Pro Lula eu nada lego / o ‘Cara’ é que me legou.
Do Filho do Brasil herdo / o modo como beijou
e como cravou o prego / na cruz do trabalhador.
Cadê, onde está, quem viu? / O programa do PT sumiu.
06. Nessa quaresma de araque / em que traí o Galileu,
Deixo à senhora do PAC / muito aliado fariseu:
O PMDB e sua claque / primeiro-eu, depois-o-meu.
Dilma com quem andas / que eu te direi quem és.
07. Um desafio impossível / deixo pra Dilma Rousseff:
Chegar bem perto do nível / do bom Ibope do chefe.
Com Michel Temer visível /tudo não passa de blefe.
Tempo será de mico-có / homem em pé de um olho só.
08. Ao vampiro José Serra / que também não fica atrás,
Deixo um cabo-de-guerra / pra puxar com Satanás.
O DEMo aqui na terra / só quer cargos federais.
Serra no audiovisual / é que nem coveiro em funeral.
09. Deixo pra fé da Marina: / Darwin, Eva e Adão feliz
Tem gente que abomina / sua aliança com Sirkis,
Mas aprecia a menina / que quer mudar esse país.
Verde que te quero verde / verde vento, verdes ramas.
10. Aos que têm a ficha-suja / com processo em tribunal
Trinta moedas de gruja / deixo em aval comercial.
Caixa dois da dita-cuja / no processo eleitoral.
Sarney, Collor e Barbalho, esse trio é do carvalho.
11. Pro Renan e sua canalha / trinta moedas na maleta
Pro Jucá, uma cangalha,/ Pro Sarney, uma gorjeta,
Pro Arruda, uma mortalha / Pro Ciro, uma escopeta
Suplicy? fogo de palha / Pro Gilmar, uma gaveta.
12. Se o mensalão do DEM comprar / panetone que nem comi
Deixo pro Arruda usar / aquilo que adquiri:
A corda pra se enforcar /a mesma com que morri.
Que Deus nos acuda-da-da / Nos livre do Zé Arruda-da-da
13. Pra que Dudu não confunda/ coisa pública e privada,
Um suplente que desbunda / com dona Sandra calada,
Deixo chapa vagabunda / pra enganar a cabocada.
Os fantasmas no Solimões / Já lhe renderam milhões.
14. Os meses de governança/ deixo para o Lobo Mau.
Omar vai encher a pança / está cercado de lalau.
Hoje vai haver festança / pra fazer muito mingau.
Vinde a mim as criancinhas / delas é o reino dos céus.
15. Pro Negão Amazonino / e seu amigo Siqueira,
Deixo-lhes rico cassino / pra encher a algibeira,
Um terreno clandestino / e enorme buraqueira.
Cotia Risonha pia / quando seu fiofó assovia.
16. Deus te dê, Cabo Pereira / aquilo que deu ao bode:
Uma tripa cangaceira / catinga, barba e bigode.
Eu pergunto de bobeira / tu responde se tu pode:
Cadê o diabo do expresso? Ninguém sabe, réu confesso.
17. Ao candidato Serafim / com patente de general,
Um reles cabo está a fim / de curvar-lhe a cervical,
Deixo-lhe todo meu latim / contra o convite imoral.
Onde berra touro no grito, não berra bode e cabrito
18. Deixo aos Irmãos Coragem / que são bem babaquara
Um bilhete de viagem / lá pra Puraquequara.
Se houver boa arbitragem / provarão da lei a vara
Quem já puraquequarou / bebeu açaí, ficou.
19. Deixo pro ex-deputado / pistola e microfone
jatobá amarelado / e uma foto dos Nardoni.
Já tá tudo calculado / bota a boca no trombone.
Aleluia, aleluia, peixe no prato farinha na cuia.
20. Pro Berinho, meu amigo / de quem sou fiel leitor,
Deixo um léxico bem rico / pro dicionário do autor,
Obra rara de penico / é pra bico de doutor.
Pico pico maçarico, quem te deu tamanho bico?
21. Do espólio que me sobra / pra todos eles eu deixo
Muito óleo de peroba / pra passar na cara e queixo
E azeitar tanta manobra / sempre mudando de eixo.
Eles são do balacobaco / farinha do mesmo saco.
22. Agora volto ao meu lar / me junto ao capiroto,
no encontro do meu par / cheiro a lama do esgoto.
Do Brasil posso contar / as façanhas do Canhoto.
Oh cobras do caminho / afastem que vou passar.
P.S. – Esse testamento é dedicado à memória dos donos da rima: Heyrton, parceiro em tantos versos e Edilson, filho da dona Pequenina, seresteiro do bairro de Aparecida. Agradeço a interlocução do Mauro Biba e do Zé Se-rindo.
* * *
José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti http://www.taquiprati.com.br/index.php
Colabora com a Agência Assaz Atroz