- Gabi, solta um peidinho pro vovô ouvir, solta!
De quem é essa frase? Quem fez esse pedido despudorado na presença de várias testemunhas? Foi José Serra, avô coruja da Gabi, quando brincava com a neta na sua mansão na Rua Antônio de Gouveia Giudice, bairro nobre de Alto Pinheiros, São Paulo? Ou Dilma Rousseff, implorando para que o único neto, Gabriel, recém-nascido, bombardeasse o avô, seu ex-marido Carlos Araújo, na visita que os dois fizeram à maternidade de nome sugestivo - Moinhos de Vento - em Porto Alegre?
Você conhecerá o (a) autor (a) da frase nessa edição. Se você ficar conosco saberá ainda os resultados da pesquisa – única no Brasil - sobre a intenção de votos dos netos feita pelo Data/Taquiprati que, em vez de consultar eleitores, ouviu 2925 crianças. A pergunta foi: se você votasse hoje, qual dos dois avós escolheria para presidir o Brasil? O resultado surpreendente apresenta margem de erro muito menor do que a dos institutos tradicionais.
Peido de vaca
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Uma dessas confrarias de avós celebrou a frase. Afinal, quem fez tal pedido ao neto ou à neta? O Papa Bento XVI, com certeza, não foi. Ele não criou filhos, não tem netos e, com todo respeito, tudo o que fala sobre crianças é pura abobrinha, não é fruto da experiência própria, não tem valor ético, é politicagem do Vaticano. Se o papa fosse avô, certamente puniria a pedofilia no clero, em vez de ficar jogando para a plateia, como cabo eleitoral.
Mas Dilma e Serra são avós. Ambos se manifestaram contra o aborto, não iriam querer que o neto abortasse um peidinho. Um deles, portanto, pode muito bem ser o autor da frase. Pode mesmo? Vamos ver. O assunto, de importância transcendental, merece uma análise tanto do ponto de vista programático quanto lexical.
Um exame minucioso dos programas de governo de Dilma e Serra comprova o desprezo deles pela questão ambiental defendida por Marina Silva no primeiro turno. Ora, o Brasil é o quarto emissor de gases tóxicos do mundo, devido às queimadas e à emissão de gás metano, produzido pelos gases do gado. Peidos de bois e vacas geram 80% do hidreto de metila disperso na atmosfera. O gás humano, expelido por uma criança a uma velocidade de 0,080m/s, pode contribuir para a poluição ambiental.
Serra e Dilma não estão preocupados com isso. O modelo que defendem é o do crescimento econômico a qualquer custo, com geração de renda e emprego. Ambos querem engarrafar os gases produzidos pelos netos, misturando-os com propano e butano, para uso na cozinha. A única diferença, a favor de Dilma, é que ela mantém os recursos naturais como patrimônio do povo brasileiro, já Serra privatiza tudo, o pré-sal e até o pré-peido. Programaticamente falando não existe, portanto, qualquer impedimento para que o autor da frase seja um dos dois.
Balança a roseira
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- Expele um flato ruidoso pro nono ouvir, expele.
A máxima concessão lexical seria trocar “expelir” por ‘liberar’. Por isso, Serra está descartado como autor da frase. E a Dilma? Bom, ela é pop, não fala tucanês, jamais falaria ‘flato’, mas também é demasiado recatada e formal para empregar a palavra “peidinho”. Prefere termos como ‘pum’, ‘traque’, ‘triscada’ ou ‘vento’. Talvez, se estivesse inspirada, diria poeticamente:
- Balança a roseira pra vovó, balança.
Portanto, do ponto de vista lexical, os dois candidatos ficam descartados.
O autor da frase, na realidade, não é candidato a nada, só a avô anônimo. Trata-se do meu melhor amigo, o cara que mais admiro, cuja neta, Ana Pereira, nasceu há duas semanas na Vila Feliz, no Rio Grande do Norte. A frase não se refere a ‘Gabi’, que entrou aqui como Pilatos no Credo, por intriga da oposição. O que ele disse repetidas vezes para sua neta - os vizinhos testemunharam - foi:
- Aninha, solta um peidinho pro vovô ouvir, solta.
![](http://www.taquiprati.com.br/arquivos/enviados/ckeditor/images/dois%20na%20banheira.jpg)
O treino começou com o avô cantando frevo e chacoalhando a neta em seu colo. Hoje, quando ele implora para ela se pronunciar, Aninha fica vermelhinha, estica os dois bracinhos, move as perninhas como se estivesse pedalando uma bicicleta, franze o cenho e manda ver. O método se revelou tão eficiente que Aninha está indo a Manaus, onde vai ministrar um workshop aos primos com objetivo de ensinar como é que se balança a seringueira.
O avô, babão, declara que já esteve várias vezes perto da morte, mas nunca ficou tão perto da vida quanto no convívio com a neta. Ele lembra a frase de Gore Vidal:
-Nunca tenha filhos, só netos. Os netos são a sobremesa da vida.
Seguindo sugestões do avô de Ana, o Data/Taquiprati fez uma pesquisa de intenção de votos com 2925 netos, numa amostragem probabilística, dentro da linha de Cochran, Bolfarine e Bussab. A margem de erro é de 2%, e o nível de confiança de 97%. Diante da pergunta - qual dos dois avós você escolheria para presidir o Brasil? – 58% dos netos optaram por Dilma, muitos lamentando não poder escolher Marina.
A democracia avançou no Brasil. Os eleitores não são obrigados a optar para presidente da República pelo lixo: Collor, Barbalho, Roriz, Calheiros et caterva. Os dois candidatos, Dilma e Serra, independente das alianças que fizeram e das limitações pessoais e políticas de cada um, são nomes, até prova em contrários, dignos e capazes de presidir o país. Afinal, ambos são avós.
Se for correta a pesquisa Data/Taquiprati entre os netos, dirigida por dois estatísticos de renome – Wet Bread e Jerry Pai-da-Greta – o Brasil será dirigido pela primeira vez por uma avó. Vamos juntar os cacos e cobrar dela as promessas de campanha.